
Um pouco mais sobre mimEu nunca fui muito bom em falar sobre mim mesmo. Sempre preferi ouvir e, talvez, apenas talvez, usar coisas sobre mim indiretamente em meio a uma conversa.Alguns dizem que isso é um gesto simpático da minha parte, mas eu nunca poderia dizer com precisão o que é ou o porquê.Mas, se me permite tentar: eu sou um rapaz não muito distinto. Talvez meus gostos ou minha aparência sejam um tanto diferentes, mas sempre fui essencialmente comum.Nasci em Japeri, uma cidade do Rio, que, pessoalmente, eu nunca vi, e cresci a maior parte da vida em Rio das Ostras. Sempre fui humilde de condição, filho de um cabeleireiro e de uma manicure, e irmão de uma moça de coração enorme.Costumava ser uma criança bastante agitada, animada, briguenta e, mais tarde, um rapaz extremamente quieto, mais acostumado a conversar com a própria cabeça do que com os outros.Eu era inconstante, e os poucos amigos que tinha achavam isso interessante. Eu os amava por serem tão gentis de pensar assim do caos silencioso que eu era.Meu amor por jogos, e principalmente por entender como jogos são feitos, me fez aprender mais e mais sobre computadores e tudo que os liga.Hoje, no momento em que escrevo isso, tenho 25 anos e trabalho em uma das áreas que mais gosto: a Tecnologia da Informação.Porém, pouco a pouco, a cada ano, meu coração mais e mais retornava ao que me trouxera até aqui: o desejo de viver histórias fantásticas.Nunca fora o jogo, o entretenimento, os botões, o controle ou o poder de ter. O que realmente me conquistava nos jogos era o quão imerso eu ficava em mundos tão diferentes, com músicas tão serenas e precisas.Levou um tempo para entender, mas eventualmente compreendi que o que me conquistava naquele hobby era o desejo de contar minhas próprias histórias, de maneira igualmente imersiva.Os anos correram, e o meu amor silencioso de infância — o desenho, para o qual eu não dava muita bola por ser tão natural e espontâneo — mais e mais ganhava força em mim.E assim, sem perceber, os rostos desenhados ganhavam histórias em minha mente, que eu escrevia no papel.Destas obras que surgiam, o meu desejo de gerar imersão nos outros construía histórias em forma jogável, através do Role Playing Game, em uma mesa, com fichas, dados e todos os aparatos engenhosos e técnicas que eu mesmo desenvolvia para proporcionar ainda mais envolvimento.Porém, em algum momento, eu tinha que construir algo com a seriedade que meu coração pedia.Naquela época, eu não tinha coragem de tentar ser escritor, apesar de já ter escrito muito.Em 2017, dois anos após 2015 — o fatídico período em que conheci, me tornei melhor amigo e me apaixonei pela mulher da minha vida — ela e seu irmão aceitaram o meu convite para Nortem.Um mundo de magia ainda sem muita forma, que não sabia se situar ao certo entre o medieval, o renascentista e o vitoriano.Assim nasceu nosso primeiríssimo RPG de mesa, que durou apenas um ano: o amado Banquete de Quimara.Mas havia algo errado. Os personagens eram incríveis, o mundo era apaixonante e a história cada vez mais interessante. Mas era necessário mais.Regras melhores, um sistema melhor e uma estrutura melhor no geral — o melhor possível — para permitir que toda aquela atividade incrível atingisse seu real potencial.Assim, Ray e Erick ficaram diante de uma nova decisão: recomeçar a história do zero, renovada, reescrita, construída através de muito suor, muito sangue, muitas noites sem dormir e o sonho de um dia torná-la algo mais do que apenas um jogo.Desse dia em diante, nós iniciamos o que é hoje o compilado de todas as histórias que compõem o nosso mundo mágico, do qual ainda pouco posso dizer.Oito anos depois do início de tudo isso, agora com 25 anos, casado com Ray e pai de duas lindas menininhas, eu posso dizer que meu sonho está se realizando.Meu hobby pessoal nunca teve interesse monetário, mas sim o profundo anseio de deixar neste mundo um pedaço da minha alma, para que um dia eu possa partir em paz.Hoje, não sou muito diferente do jovem que eu era.Eu falo um pouco mais, escrevo um pouco mais, jogo um pouco menos e também sou menos inconstante.Acho que amadureci em algum ponto e sou mais gentil em algum grau. Certamente mais feliz, e com certeza mais crente nos meus sonhos, nos sonhos daqueles que gastam um minutinho de seu precioso tempo para me contar sobre os seus.E no carinho de Deus por todos nós, que me inspirou a ser e a fazer tudo que hoje sou e faço.Este sou eu. Eu até aqui.Brendon G.





Por agora, é o fim do diário. Continua em breve...